Assumir que a dimensão psicológica e nada são a mesma coisa, é anular parte importante da nossa existência, fundamental para experimentar a vida humana. Nossas emoções, pensamentos, corpos físicos e espírito somam uma unidade completa, cujas partes são indissociáveis.
Por mais que saúde física e saúde mental sejam tratadas como coisas separadas e que saúde social não seja nem considerada nessa equação, tais dimensões interagem a todo momento e são intrinsecamente dependentes.
Ninguém é só uma mente pensante, só um coração emotivo ou só um corpo realizador, porém, frequentemente nos perdemos desse senso de unidade e uma parte passa a ter que falar por outra que segue invisível, silenciada.
Afinal, no mundo contemporâneo, é mais fácil rebaixar a imunidade e ceder a uma baita gripe com febre de 40ºC que dizer que precisa diminuir o ritmo e descansar um pouco. Mais fácil medicar uma gastrite nervosa severa que dar direção a raivas e pressões constantes.
Mais socialmente aceitável ter e dizer de dores no corpo inteiro e se habituar aos analgésicos que dar voz a sobrecargas impostas, preocupações financeiras, lutos sufocados e outros infortúnios corriqueiros.
Nossa falta de consciência e dessensibilização sobre nossas emoções e nossos corpos físicos - assim como a consequente dificuldade em administrar suas expressões e interações -, pode trazer grandes prejuízos a diversas áreas da vida, inclusive à saúde (ou a falta dela).
Por exemplo: em algum momento a sábia natureza nos deu hormônios como o cortisol para oportunamente estressar nosso corpo e ajudar a nos mobilizar para fugir de predadores, lutar para defender o bando de ameaças, nos livrar de algo incômodo e viabilizar a sobrevivência e a volta ao equilíbrio.
Mas o que acontece quando o predador é um emprego abusivo que você precisa ativamente ir de encontro? Quando defender o bando é rebolar para dar conta de boletos que não param de chegar? Quando nos descuidamos das nossas necessidades por coisas supostamente mais urgentes e nos desconectamos do que realmente importa?
Não há descanso, não há retorno ao equilíbrio, a tensão e o desgaste passam a ser a regra e os músculos enrijecidos, o estado de alerta em insônias, a prisão de ventre, falta de ar, etc. se tornam parte do dia a dia, até que fadigam nossos sistemas, fragilizam nossa saúde e “do absoluto nada” adoecemos.
Parar para nos olhar por inteiro e assimilar os atravessamentos que passamos, possibilita reorganizar e buscar meios de enfrentamento assertivos que preservem nossa integridade existencial de forma a melhorar nossa qualidade de vida. O suporte de profissionais da medicina e psicologia em processos de somatização\ e psicossomatização* podem apoiar fundamentalmente no manejo e dissolução de causas e sintomas.
Assim como as emoções e a expressão lógica, somatização e psicossomatização nada mais são que formas de comunicação do organismo, nesse caso para apontar desequilíbrios negligenciados. Uma vez que em nossa cultura o mal-estar físico recebe maior reconhecimento, é possível transferir ao corpo a responsabilidade de anunciar nossos limites e necessidades.
Enquanto dar atenção a nós e aos limites do nosso organismo só nos for lícito quando adoecermos, processos somáticos e psicossomáticos serão úteis para contar o que ainda não é possível dizer ou assimilar.
*quando sintomas físicos não demonstram causa orgânica detectável
**quando questões emocionais desencadeiam desordens orgânicas detectáveis.
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