Eu ainda me lembro como e quando foi que eu me assumi. Alí, na mesa da cozinha. Minha mãe e minha irmã. Eu ainda me lembro a primeira vez que beijei alguém fora da heteronormatividade. Foi natural, mesmo rodeada de culpa e um certo mistério. Tinha que ser segredo. Ninguém poderia saber.
Ninguém?
Me assumir bissexual foi como gritar no centro da cidade. Ninguém liga, mas também ninguém acolhe. Ninguém entende. Nem faz questão. Você precisa aprender a se virar sozinhe.
No meio do caminho, é bem capaz que ache outras pessoas que estão nessa sozinhes também. A união se faz na dor, violência. A união vem do "eu te entendo". O conceito de família muda, não é mesmo?
Escolher entre viver o que me pediram para viver e viver o que eu era foi e é difícil. Por anos, me sentia capaz de esquecer quem eu era para não lidar com os impasses de sair da curva da imposição cis, binária, hetero. É cansativo ser a discórdia da família.
U excluíde da sociedade. Aquele que não se pode nomear, não se pode ter espaços. Mas não é só de sofrimento que vivemos não: cada dia mais me fortaleço e tomo consciência de que ser LGBTQIA+ é ser potência. E é isso que eu desejo para vocês hoje.
Hoje é dia internacional do Orgulho
LGBTQIA+. E espero, do fundo do meu coração, de um dia não precisar vir aqui pedir por direito à vida, dignidade e respeito, por aceitação. Pelo mínimo para vivermos em sociedade.
Enquanto existir for um problema, nosso corpo sempre será político.
Dia de Luta. Dia de orgulho.
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