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Foto do escritorNeto Dobrochinski

Masculinidade e Cultura Digital

Existe, cada vez em maior nível, uma ligação recíproca entre o que entendemos como realidade e o mundo digital, que acaba por modificar a sociedade em que vivemos.

Nesse processo, se transforma a linguagem, a cultura e a compreensão de nós mesmos.


A velocidade com a qual se formam e viralizam novas gírias, memes, trends e dancinhas, pouco denuncia sobre aquilo que cresce nas sombras, num processo mais profundo e danoso, e que ao mesmo tempo diz respeito a algo mais íntimo, muitas vezes não pensado, e que precisa vir ao primeiro plano, ou estará fadado a retornar de forma subdesenvolvida e sintomática.


Os papéis de gênero estão sempre se atualizando, o que nos leva a possibilidade da abertura para experiências e ao enriquecimento das formas de vida, mas traz também grandes desafios.


Pode ser maravilhoso pensar num modo de construção de significados coletivos e democráticos, que favoreçam o encontro e a troca, promovendo a desconstrução de visões tóxicas de masculinidade, promovendo um movimento de reparação, em que se discuta a masculinidade de forma consciente, atenta aos recortes sociais, raciais, afetivos e a masculinidade trans, buscando o reconhecimento e a aceitação das múltiplas formas de ser homem, mas todo avanço do pensamento progressista encontra um movimento de resistência conservadora.


O que são os Incels? Essa palavra possui origem inglesa, significando "celibatários involuntários". Esse termo se originou de um movimento na internet de homens que se sentem inferiores aos homens "sexualmente ativos" e que odeiam mulheres que são "sexualmente ativas". Basicamente, é um grupo formado, em sua maioria, por homens héteros e cisgêneros que justificam suas ações misóginas na figura feminina, incitando o ódio às mulheres.


Nas pesquisas feitas pelo Canto Baobá, o primeiro relato de um ataque nomeadamente incel (que temos notícia) aconteceu em 2014, na Califórnia, onde um homem de 22 anos assassinou 6 pessoas, feriu outras 13 e cometeu suicídio em seguida. Em depoimento deixado nas redes sociais antes de cometer o crime, alegou que estava realizando uma "vingança contra a humanidade" porque "não era desejado por nenhuma garota".


Os Incels se fortalecem pela internet, as consequências são globais e possuem ações físicas no mundo real. Atualmente, estamos observando uma crescente de homens que se intitulam como "Redpills", sendo uma tradução parecida com as pílulas da realidade, do filme Matrix. Seguem o mesmo modo de opressão, misoginia, machismo e discurso de ódio.

Dessa forma, o Incel se coloca numa posição de falso triunfo, de superioridade sexista. Para quem pertence ao grupo, essa acaba por se tornar uma ideologia de conforto, que recusa a responsabilização do sujeito, e o estimula a performar uma masculinidade hegemônica caricata associada a um discurso de ódio.


Há algumas postagens, dialogamos sobre uma problemática crescente no Brasil e no mundo: o aumento do discurso de ódio e feminicídio por parte dos incels. E hoje, iniciaremos nosso texto dialogando sobre o movimento das redes sociais como disseminadoras de opinião, violências, construtoras de redes, que por bem ou para o mal, inflam grupos e alimentam suas ações.

Nesse processo é necessário reconhecer o valor das ferramentas digitais que, não por acaso, foram decisivas ao longo dos últimos anos para o ganho de território político de movimentos ultraconservadores e de extrema direita, que operam por meio da identificação de seus membros e a criação de um inimigo em comum.

A experiência de reconhecimento propiciada pelo meio virtual pode vir a compensar o desajuste fora das redes por vezes causado pelas próprias ideias reproduzidas fora de um contexto protegido pelo anonimato virtual. Infelizmente, muitas vezes antes desse desencontro ter como consequência uma revisão das ideologias, leva o indivíduo a inflar ainda mais sua relação com a bolha que o aceita, aumentando o desprezo pelos que ficam de fora.

Por fim, é importante lembrar que a noção de masculinidade é transitória e adaptativa, e que cabe a todos nós uma responsabilidade compartilhada na construção de uma masculinidade consciente e responsável, que reconheça a diversidade das formas de ser homem e promova a igualdade de gênero.




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